Dois dias, 48 horas para matar as saudades. Voltamos a ser quatro na mesa desde o dia 6 de março quando o Bruno foi chamado para prestar o serviço militar. Voltamos a dar risadas e deixar o tempo correr ao redor da mesa, falando besteira, implicando um com o outro, tirando sarro de alguma coisa. Só o que mudou foi a curiosidade. Queria ouvir tudo, queria saber de cada minuto que não estive lá. Quantas vezes quis ser uma mosquinha!

Meu filho não era mais o mesmo. Dez dias foram o suficiente para transformá-lo em alguém que ainda não sabia definir precisamente, mas sabia que aquele que me despedi na porta do quartel no último dia 6, não era o mesmo que estava sentando à minha frente durante o jantar no dia 15.

Primeiro a postura. Só sentou quando o pai se aproximou. As mãos cruzadas nas costas era outro sinal de que teria outras surpresas. Contou-nos que eles rezavam antes das refeições. Inclusive, naquela sexta-feira tinha ido assistir a uma missa na capela do quartel presidida por um capelão militar. Agradecimentos e um “sim, senhor” foi dito muito fácil. Naturalmente.

Se a rotina era comer rápido, conosco foi cortando a pizza milimetricamente, pausadamente, enquanto contava o que íamos perguntando. Pequenos pedaços, timidamente. No olhar, um imenso amor e a satisfação de estar em casa.

Foram pouca mais de uma hora com uma intensidade mil. Mil novidades, mil histórias, mil sentimentos. Ficamos todos esses dias sem comunicação.

“Não é fácil, não é moleza, mas estou gostando”.

Essa era a deixa que faria meu coração aquietar. Nossa, como eu queria ouvir que ele estava se sentindo bem. Afinal, ele estava inteiro. A pele boa, o olho brilhante, a musculatura esticada. E a cabecinha?

Melhor do que eu imaginava. Contou-nos muitas coisas. As marcantes e que me fizeram ficar emocionada foi da alegria quando souberam na sexta (15), à tarde, que poderiam passar o fim de semana com a família. “Corremos igual crianças, mãe, sabendo que poderíamos voltar para casa”, disse-me ele com os olhos marejados. Sim, imaginei a cena exatamente no local que tínhamos conhecido no dia da formatura.

Sério, mas com um humanismo que não pensei existir, a justificativa para quebrar o internamento de 40 dias foi dita por um sargento: “Vão para casa. Não aguentamos mais esse cheiro de roupa suja”. A roupa suja era o nosso melhor presente!