UMA HOMENAGEM AO DIA DO SOLDADO, 25 de agosto.

1978. Um ônibus – daqueles típicos do interior – fazia a cada ano um destino certo. Trazer centenas de jovens para cumprir o serviço militar na capital. Naquele ano, não foi diferente. O veículo antigo circulou e fez paradas em diversos quarteis de Curitiba. No destino final, a Av. Erasto Gaertner, no bairro Bacacheri, em frente ao 20.° Batalhão de Infantaria Blindada Max Wolf Filho. Iniciava-se a longa jornada de experiências do pai do 736 que serviu na 1.ª Cia Operacional por um ano e cinco meses.

“Servir ao Exército Brasileiro era uma tradição de família”, pontua, orgulhoso, Hélcio Campos Alves Jr, 60 anos, mostrando o certificado de honra ao mérito recebido ao fim da carreira militar. Até hoje, ele lembra que foi o soldado 2254. Ao lembrar daquela manhã, quando deixou a família em Uraí, no norte do estado, se emociona. ” O quartel foi minha casa, minha referência; aprendi muito e só deixei o quartel por solidão”. Para ele não era fácil precisar ser “laranjeira” – o que mora no quartel – principalmente, aos fins de semana, quando todos iam para casa. “Saia com os que ficavam também – mas eram poucos – e íamos conhecendo a cidade à pé. O dinheiro era curto”.

Pouco se fala dos pais de recrutas, e a grande maioria, serviu às Forças Armadas e o Bizu de Mãe não poderia deixar de registrar esse sentimento que volta à tona quando se vê o filho vivendo o que o pai passou lá atrás.

Vem a lembrança de que o pai também usou a farda, camuflou o rosto, empunhou um fuzil. Cavou trincheiras, marchou em ordem unida. Prestou continência e correu acelerado. “Tudo que era feito naquela época tinha que ser correndo”. Fez a barba em pequenos espelhos; tomou banho em menos de dois minutos; comeu mais rápido ainda no rancho. Cantou o Hino Nacional, da Bandeira e da Infantaria. “Até hoje é emocionante ouvir alguns deles e lembrar que já estive lá”. Quando conta que serviu no 20BIB sempre recebe um olhar de respeito. “Brincam que só os fortes passam pelo quartel tão tradicional”.

Na sequência das lembranças, é claro que não dá para esquecer dos turnos da guarda, do frio e do desconforto. Do cansaço que levava dar aquele cochilo e da lembrança que qualquer passo em falso, era punição na certa.

Das melhores lembranças, vem à tona a divisão da água no cantil, dos amigos que ainda lembra dos números e dos apelidos, das longas horas de exercício. Das piores, ele ri. Em uma missão – e foram muitas realizadas na serra de Quatro Barras – precisou ajudar o soldado da frente a sair de um túnel. “Tinha entalado e o gás lacrimogêneo comia solto”. Ou daquela vez que foram acordados em plena madrugada fria – muito fria – e cada soldado vestido de um jeito. E quando batia a fome? Nas marchas longas e a permanência de semanas na mata, a saída eram as galinhas. Sem frescura. E o toque da alvorada que cravou na mente, hoje, voltou a tocar no celular para acordar o filho.

“Virei homem e levo comigo todos os ensinamentos e o orgulho de ter feito parte dessa família. Aprendi sobre honra, retidão, respeito, obediência. Hoje, sigo outras missões. Ficou o aprendizado que deixo para meus filhos e a saudade de ter sido um soldado da infantaria”.

De norte a sul do Brasil, o soldado brasileiro é sentinela atenta. Entra ano e sai ano, jovens brasileiros tornam-se reservistas. E ampliam sua consciência de cidadão, porque no quartel não se aprende apenas a fazer a guerra; no quartel se aprende, e muito, a ser cidadão, a gostar do seu país, a ser solidário. Por isso é que depois ninguém esquece o serviço militar. Volta e meia está se falando desses tempos e desse lugar onde de fato a pessoa experimenta o significado do companheirismo verdadeiro.

Fonte: Revista Verde Oliva (Centro de Comunicação Social do Exército)