11 km de marcha mochilada, progressão diurna e noturna, transposição no rio, treinamento de resgate. Parte de um dia, apenas. O banheiro foi no mato, o almoço, uma banana, um tomate e bolacha salgada; à noite, um sopão de caneca. 30 minutos, nada mais, nada menos, porque objetivo não espera.

Em torno de 15 horas de treinamento intenso, a chuva lembrava que avançar era a única opção. Missão dada, missão cumprida. Olhos abertos aos obstáculos, pés firmes em terreno molhado, coração batendo a mil. O simulado mais esperado pela Sandra Santos, mãe do soldado Alexandro que cumpre o Serviço Militar Obrigatório, em Curitiba.

A rotina dele virou parte da vivida pela mãe a partir do dia que se matriculou no curso de Socorrista e Resgate, em 2020. E o tão esperado campo de treinamento, de fim de curso, trouxe a similaridade e o respeito. A colaboradora de uma escola infantil, sentiu o que era o “sanhaço” ouvido do filho recruta, e viveu a adrenalina. “Não tem como descrever. Só vivendo.”

O início

No dia 01 de setembro de 2020 foi o dia que a Sandra resolveu voltar a estudar. O filho ia se alistar, e a vontade dele estar entre os convocados para cumprir o ano obrigatório de 2021, precisou ser o incentivo. “O meu coração foi a mil. E eu, que sempre lutava contra a ansiedade, entrei em pânico. O que eu vou fazer agora? Vou ficar sozinha? Preciso fazer algo que goste e que me ajude. Procurei o curso Centro de Treinamento Ma’s porque a profissão de socorrista sempre achei linda. É muito despojamento e entrega. Eles deixam as próprias famílias para cuidar de desconhecidos”, relembra.

Do filho, recebeu apoio. No entanto, teve quem a chamou de “louca”. Salário baixo, riscos altos. Mas, desistir não era opção. Primeiro, as aulas EAD, devido a pandemia, depois vieram as aulas presenciais aos sábados. E, como no EB tem canga e amigos de farda, ela também ganhou duas “irmãs” de trecho, a Marcella e a Regiani, e todos os incentivos necessários para vencer cada etapa.

Aprendeu que cada dia era um dia a ser vivido, que conhecimento vinha com expectativa, que precisava manter o foco e a disciplina. Mas, teve dia que sair da cama era difícil durante as crises de ansiedade. E a prece virou pedido para não desistir do sonho. E o desejo veio mais forte quando o filho testou positivo para Covid-19. “A necessidade de ajudar ele e outros foi muito maior.”

O grande dia

O treinamento em Primeiros Socorros em Áreas Remotas é a última etapa do curso. Nessa fase, percebe-se a importância das técnicas, comportamento e comprometimento, caso contrário, uma emergência médica pode se transformar em uma tragédia.

No dia 23 de outubro, em torno de 150 alunos chegaram à estrada de saibro, em São Luiz Purunã, nos Campos Gerais. E a cada obstáculo ou dificuldade, o grupo avançava. Na mente da mãe, o dia do filho e os sentimentos. “Um tiquinho que foi o campo dele, mas meu orgulho por ter vencido e chegado até ali. A chuva escondia a lágrima. E a emoção quando o instrutor agradeceu a equipe e fez uma oração. Os fogos nos lembraram que tínhamos conseguido. Só vencer os limites.”

* Na gíria militar, a “sanha” é viver uma situação preocupante que requer atenção e ser “safo”, descolado.