Nos últimos dias do ano que se despede, é comum surgirem listas e conselhos para um novo ano. Quando na retrospectiva de um ano, a grande maioria das pessoas, não se interessa pelo que deixou para trás (a não ser se gostar de assistir as retrospectivas televisivas) mas esse foi um ano com a pandemia e suas variantes, e de vacinas que simbolizaram esperança; um ano de polêmicas, de irracionalidades e violências gratuitas; um ano de recessão e de retrocessos; um ano de mudanças que devem ter servido para alguma coisa. E na esteira, vêm as receitas falíveis das conversas de “maroca”, da cultura familiar de cada um, da rede social. Mas, que serão assertivas somente com a informação, com pé no chão, com a criação de possibilidades e o desejo de aceitar/entender e querer mudar o que o novo ano for apresentar para cada um. Vencer medos reais, e não imaginários. E não se esconder igual avestruz. E tudo bem! Não é preciso romantizar para ser feliz, e quartel faz parte desse escopo, assim como a maternidade, a amamentação, o relacionamento abusivo, o ciúme e a posse disfarçados de cuidado.

Sim, a romantização cria armadilhas quando se imagina que aquele é o mundo real e ideal. Não, não é. Não é uma passagem temporal que vai fazer mudar tudo. Assim, de uma hora para outra. Como escreveu Drummond, em seu poema “Receita de Ano Novo”, todo novo ano “cochila dentro de cada um”, cabe acordar esse movimento e dar o pontapé para realmente um ano novo. Não é porque chegou janeiro que tudo vai mudar como um passe de mágica. Depende de cada um. E, principalmente, dos preparativos de como cada um vai encarar o novo ano. Parou para pensar sobre isso? Um ano novo com letra maiúscula.

E, no que diz respeito ao projeto Bizu de Mãe, um novo grupo deverá chegar, e com ele todas as demandas pertinente ao assunto desconhecido, curioso, diferente e que promete trazer muitas mudanças. E nem sempre compreendidas por quem está do lado de fora dos muros, e pelos jovens adultos que serão colocados à prova de suas expectativas e frustrações. Sim, viver é estar constantemente sujeito a desafios. As oportunidades não surgem do nada, e efetivar sonhos merece esforço e resiliência. Então, comece agora.

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.