Antes que as mães leitoras se revoltem, calma aí. Ser desnecessária não é desamor. Ser desnecessária, com o passar do tempo, é crescimento. Estranho? Nem um pouco, porque Dalai Lama lembra em sua obra e discursos que é preciso dar a quem se ama “asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar”. Uma relação emocionalmente saudável não deveria esquecer dessas premissas.
E o tempo vai dando essa capacidade de perceber o quanto é inteligente e necessário não querer colocar a cria embaixo do braço a todo momento, que não é possível estar em todos os lugares, 24 horas por dia, soprando “feridas imaginárias” ou da alma, impedir erros, tristezas e perigos. Você ensinou, repetiu, repetiu de novo no período certo, então é hora de confiar no que ensinou. Mãe, em que momento você percebeu que seu filho cresceu? Tenho certeza que estão pensando e a resposta é difícil, porque essa é uma batalha difícil. Saber a hora de sair de cena com a superproteção pode ser muito complicada e tardia. Sofre filho, sofre mãe.
O período que se inicia, então, essa é uma constatação fundamental para o bom andamento saudável do indivíduo. No cumprimento do Serviço Militar Obrigatório é que o jovem adulto (sim, mãe, ele cresceu!) vai aprender – para ontem – que decisões devem partir dele, única e exclusivamente, que a autonomia é fundamental, que horários e conexões de que precisam dizer o que fazem a toda a hora e momento são de responsabilidade deles. Que as decisões partirão deles a partir de cada experiência individual.Todo ato tem uma consequência.
E aí entra o processo de se transformar na mãe desnecessária. Você tem certeza de como ensinou o seu filho até o momento? Quais os valores que passou? Como são as cobranças e limites impostos até então? Qual é o valor que seu filho dá para o que aprendeu em família? Se a resposta for sim, eu busquei ensinar o melhor (cada família terá seu parâmetro, com certeza, mas tem coisas que são de bom senso), então você está no caminho para um ano saudável, principalmente, e um filho em busca de maturidade e inteligência emocional. Ponto para ambos. A resposta é: fiz meu trabalho direito e meu filho é adulto capaz de ser resiliente, proativo, focado.
Tem um texto de uma psicanalista que circula em redes sociais que fala sobre isso. E ela lembra:
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes, prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros… também.
Viu só? Processo de crescimento. Lembram quando o filho começou a caminhar? Ou que foi para a escola pela primeira vez? Ou então, que participou da primeira festa e voltou mais tarde do que o normal? Em cada fase, é permitido sempre o pouco mais. A nova perda é um novo ganho para os dois lados. E o resultado é fantástico quando você olha a sua cria e percebe que é um indivíduo buscando seu repertório e aprendizados, com erros e acertos, com a consciência de que depende dele e da sua força de vontade e resiliência. Na prática, é quando o filho toma a atitude e compartilha.
Ser mãe superprotetora não está na moda, acredite. E se acha o contrário, o período do Serviço Militar Obrigatório vai te mostrar que é uma verdade e você está redondamente enganada. Para ontem. Você se adapta ou você se adapta. Não tem opções. Ser superprotetor é passaporte para um filho inseguro. O desafio é ter o equilíbrio. Aprender a dosar. Querer a felicidade e a segurança do filho, não quer dizer que não tenha que permitir que ele passe por dificuldades e frustrações. Ambas situações que o jovem recruta vai passar nos próximos meses de Serviço Militar Obrigatório. Se não aprender lidar com elas, você não estará lá.
De acordo com a psicanalista Anne Lise Scappaticci, da International Psychoanalytical Association, a superproteção surge em pessoas amorosas e bem intencionadas, mas que não conseguem lidar com a própria ansiedade. Na maior parte das vezes, elas são inseguras e não conseguem se conter e deixar que o filho viva novas experiências. Um lembrete da profissional é não desconsiderar a idade do filho e tratá-lo como um eterno bebê, pequeno e indefeso. E a consequência do repetir dessa mensagem é nefasta. O filho vai projetar em si mesmo a imagem de que é pequeno e indefeso.
E as consequências serão reflexos desse padrão. Adultos com medo do novo, sem a capacidade de resolver seus problemas sem a ajuda do outro – transferência e falta de proatividade; inseguro e na primeira falha se identifica como incompetente e inapto; mais suscetível a sofrer bullyng.
Tem fórmula? Não, nunca tem, mas têm caminhos e possibilidades. Os filhos – e, principalmente, para os recrutas é preciso ter certeza de que a família está lá, firme, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, pronta para o aconchego e o abraço apertado. Filhos são para serem livres – com todo o pacote de responsabilidades -e felizes. Para isso, a próxima missão é sua, mãe.