Tem uma coisa que dá medo, daquele tipo que nem se sabe dizer como ou quando. Se fechar o olho, está lá espreitando igual o monstro do armário. Para os recrutas, o Campo Básico é o monstro da vez. Para as mães, o inferno em doses homeopáticas. Primeiro, o estresse da lista de material que não chega; depois a neurose de se meter na arrumação dos kits; e por fim, o pavor de que filho não volte. É a tal roda gigante girando freneticamente, e o funcionário foi dar uma voltinha. Alguém sabe como fazer esse negócio parar?

Na ânsia de tudo para hoje e do jeito que se quer ou imagina ser o ideal, só esqueceram de avisar que o campo é dos recrutas, e a experiência coletiva sempre é melhor ou pior quanto mais preparo psicológico. E que dureza!

Não é gincana, mas tem circuito. Não é acampamento, mas tem sobrevivência. Não é escola, mas tem aprendizado humano, pessoal e coletivo. Nada comparado aos que os vídeos do YouTube mostram nas edições repletas de cortes e trilha sonora. Mas, uma coisa é certa. É o lugar que o filho entende o que significa amor e ódio, com a mesma intensidade do que ter fome e comer um prato de macarrão. É assim e pronto. É simples. É visceral. É vai ter hora para acabar nem que seja na força do ódio. Mas tem risada, sim, senhora. Tem até funk para comemorar. Tem galinha highlander. Tem pau de fogo. Capivarinha e tartaruga. Tem água que vem do céu ou daquelas fakes. Por que é que tem que chover tanto? ou alguém desliga o cheiro de lodo? Tem choro de fui e venci!

O sentimento até virou música, esse ano, quando o sentimento extravasa e se aproxima do quase palpável. Fuzil é namorada. Comer nem sempre está entre as facilidades e melhores cardápios. Dormir se descobre que tem várias formas. Argumentar- o que é isso mesmo? – tem chance, se o recruta tem no DNA o perfil. A violência verbal testa e a física, bem, deixa passar. De resto, tudo é bobagem e segue o circuito. “Tá achando que sou menino? Eu sou homem”, afirma o pequeno grande homem que se descobre em 90 dias que não existem limites.

” Eu não me canso de tentar
Tentar achar algum lugar
Pra repousar
Reedificar

Será que eu peco ao dizer
Que não era pra ser?
Eu tenho sempre esse medo
De me envolver
Eu já não acho divertido só tentar viver
Eu já rompo as barreiras que vem de você
Como eu não rompia há dias atrás
Eu já senti medo e lá me vi forte demais.
As vezes eu acho que vou enlouquecer
As vezes eu acho que estou prestes a enlouquecer

Mais eu sou maior
Eu sou maior, com certeza bem maior que você.”

Não importa se a informação veio por partes, se nem veio e talvez nunca venha. O que importa que ele foi e venceu. Com ou sem louvor. O recruta que entrou não é mais o mesmo. Então corre, mãe, porque seu filho cresceu.