mãe de recruta

Impressões e experiências de ter um filho servindo o Exército Brasileiro

O desconhecido

DE 18 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO

O cordão umbilical estava sendo cortado pela segunda vez, e mesmo sabendo que era preciso – ia chegar esse dia mais cedo ou mais tarde – resisti.

Início da quaresma. O começo do meu sacrifício pessoal ao ficar longe do Bruno durante 40 dias. Que a Páscoa chegue logo. Por coincidência, durante todo o processo de angústia do alistamento militar, da ansiedade de que o liberasse logo para que pudesse ser contratado profissionalmente, falamos muito sobre um período de transformação que sentia que 2019 estaria nos trazendo. Bingo! E que montanha russa de sentimentos. Ser mãe não é fácil, vamos convir.

Depois da inevitável chamada no dia 18 de fevereiro – com mais teorias da conspiração do porquê dele não ter sido chamado no ano passado e dispensado igualmente como os amigos de escola – foram três dias de amor e ódio. Sei de cor os símbolos e as cores do quartel do Boqueirão. Quiçá, posso descrever até quantas árvores têm no local, o número de guaritas e as pedras que circulam o caminho de entrada.  Eram os 20 minutos mais longos ao parar o carro, puxar aquela conversa trivial para esconder a ansiedade e dar o beijo de despedida. O cordão umbilical estava sendo cortado pela segunda vez, e mesmo sabendo que era preciso – ia chegar esse dia mais cedo ou mais tarde – resisti.

Primeiro dia, exame médico. A surpresa de ser atendido por uma sargenta. Passado o susto inicial, seguiu-se a seleção pela entrevista – longa, detalhada – e, consequentemente, alguns exercícios básicos – avaliados por uma gordinha como eu, como bem puxados. 40 flexões e seis voltas em sei lá quantos minutos não era pouca coisa. Ao quarto dia, uma ligação perturbadora: “mãe, o que acha de colocar na farda o nome de guerra Soldado Alves?” Era a deixa para eu saber que sim, ele tinha sido escolhido. “Mas, você não insistiu que não queria?”. Sim. Tinha argumentado para “Deus e sobre tudo”, mas para eles nada como “quero seguir carreira na área de TI mas preciso da liberação”, até uma mentirinha de que “tinha uma excelente proposta de emprego”, “sim, pretendo entrar na UFPR em Análises de Sistema ou Engenharia da  Computação no vestibular de inverno” ou o máximo, “pretendo realizar um curso na área no Canadá” não foram nada consistentes. O que bastava era saber: “Tem emprego bom? Está matriculado em alguma universidade neste momento? O resto você faz em 2020” Apenas um sim para esses questionamentos, era o que bastaria para liberar o passaporte da vida militar. Afinal, o perfil de meninos “homens” como o do Bruno, estavam na lista dos mais queridos a integrarem às forças armadas.

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